sábado, 22 de março de 2008

A harpa mágica "

Em um venerado mosteiro conservava-se uma harpa mágica,
da qual, segundo os antigos oráculos,
brotaria uma melodia maravilhosa no dia em que fosse
dedilhada por um artista capaz de tocá-la devidamente.
Atraídos pelo oráculo e com a esperança de se tornar famosos,
muitos iam ao santuário,
garantiam que eram grandes harpistas
e pediam para que lhes deixassem tentar tocar a harpa mágica.
Mas todos fracassavam, do instrumento só saiam os mais desagradáveis ruídos.
Tanto os monges que viviam no mosteiro como todo
o povo do lugar já haviam perdido as esperanças
de que pudesse aparecer alguém capaz de tocar
aquele instrumento misterioso quando, um dia,
apresentou-se ali um humilde homem.
Era um desconhecido e ninguém imaginava
que chegaria a conseguir aquilo que tantos
músicos célebres haviam fracassado.
Quando o homem começou a dedilhar
o instrumento com delicadeza,
como se estivesse acariciando as cordas com os dedos,
tinha-se asensação de que a harpa
e o harpista haviam sido fundidos em um único ser.
Durante bastante tempo, que a todos lhes pareceu
como um segundo,
ouviram uma melodia com a qual sequer poderiam ter sonhado.
Por fim, o homem acabou de tocar e devolveu
com grande reverência a harpa aos monges,
estes maravilhados, perguntaram-lhe como
conseguira tocar aquela música com um instrumento
do qual os mais famosos músicos não haviam
sido capazes de tirar sequer uma nota afinada.
Então o homem respondeu com grande humildade:
todos os que me precederam na tentativa
chegaram com o propósito de usar a harpa para se envaidecer.
Eu, apenas me submeti inteiramente a ela
e emprestei-lhe meus dedos,
para que não fosse eu a lhe impor minha música,
mas que ela pudesse cantar tudo o que leva dentro de si.
Então, a madeira da harpa,
que havia sido uma árvore centenária vibrou
para cantar o ritmo do sol e da lua,
os resplendores da aurora e do ocaso,
a força do vento, o rumor da chuva, o silêncio das nevadas,
o calor do verão e o frio do inverno,
a ilusão de tantas primaveras e a tristeza do outono;
em suma a história da própria natureza.
É um instrumento maravilhoso
que não pode ser tocado por aqueles que estão cheios de si mesmos,
é preciso esvaziar-se diante da harpa
para deixar que ela mesma toque a sua melodia.
Às vezes em nossas vidas também precisamos
esvaziar nossa mente e nossas atitudes
e deixar que ela tome seu rumo,
conforme a vontade de Deus...

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