quinta-feira, 3 de abril de 2008

Ironia

Ironia é menosprezo, é zombaria disfarçada, é, afinal,
demonstração de total ignorância das leis de Deus.
Ironia é desamor.
Aquele que despertou para as coisas superiores jamais usa desse
disfarce, dessa arma traiçoeira e tão ferina,
para magoar quem quer que
seja, para melindrar, para ridicularizar.
A ironia apresenta-se em palavras, gestos, olhares ou sorrisos,
sempre com o propósito de magoar.
Lembremo-nos que aquele que usa tal arma contra o seu semelhante
quase sempre acaba ferido pela sua própria arma.
As criaturas com quem convivemos ou aquelas com quem deparamos
no caminho são dignas de respeito, seja qual for a sua condição.
Se aquilo que nos apresentam não é de molde a nos agradar,
se é mesmo vulgar ou ridículo, procuremos entender o que elas nos querem transmitir.
Temos um código secreto na nossa alma, onde poderemos encontrar
o significado de tudo e assim compreender o que essas criaturas realmente
nos querem revelar.
Há criaturas em tais estados de alma tão mergulhadas na
noite escura da ignorância,
que só conseguem extravasar tolices, às vezes venenos, e assim vão pela vida afora,
recebendo de uns, desprezo, de outros, ironia, e de muito poucos a piedade construtiva,
a que ajuda a erguer, sem sentimentalismo, mas com compreensão.
Como seria a vida terrena se as criaturas buscassem descobrir a
real finalidade das suas existências?
Quantas lágrimas, quantos sacrifícios
e sofrimentos evitados! Mas a criatura humana é ainda tão dispersiva, tão
desatenta, tão cega e surda aos verdadeiros valores, apegada que está aos
falsos valores materiais, aos desejos da carne, que não consegue e não
pensa sequer em lutar por conseguir ver outros panoramas e ouvir outros sons
senão aqueles que satisfazem os seus pobres sentidos humanos.
E assim sofre, ironiza da vida nas outras criaturas,
vingando-se dos seus desacertos, da
sua cegueira, principalmente nos que estão mais próximos de si.
Atirando sobre os outros as pedras que colhe no caminho, ferindo
as próprias mãos, revoltando-se mais ainda, porque o seu alvo muitas vezes é
invulnerável.
Aquela pedra que atirou volta como ricochete sobre o seu
atirador.
Ironia, meus caros companheiros, é a arma do frustrado, do
complexado, do que está perdido no mundo, do que não tem a menor idéia do
que fazer, por isso mesmo, procura martirizar os outros porque se sente
martirizado pela própria ignorância da verdadeira vida.
Então temos que convir que, seja qual for a mensagem que a vida
nos traga pelas mãos dos nossos companheiros de jornada, precisamos, antes
de jogá-la para um canto como inútil ou ironizar a sua insignificância,
lê-la carinhosamente, atentamente, para encontrar o espírito nela contido e
agir dentro desse espírito.
Se ainda houver em nós um resquício que seja do sentimento de
ironia, transmudemo-lo sem demora em amor, em compreensão, e sentiremos
dentro de nós como foi benéfica essa troca.
(De "Eu sou o caminho", de Cenyra Pinto)

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