sexta-feira, 18 de abril de 2008

Brigar com Deus

É muito difícil admitir que se atravessa uma crise espiritual,
uma luta interior, uma decepção, uma revolta pela oração não respondida.
Não adianta camuflar: quando estamos sozinhos, a verdade se estampa em nossa cara,
e em nossa mente reencontramos aquilo que nos entristeceu tanto!
O Padre Zezinho, meu amigo pessoal e querido, escreveu uma poesia sobre pais que
perderam seus filhos de forma trágica.
Nessa poesia, encontro sintomas gerais de qualquer crise interior,
quando estamos "decepcionados com Deus":
Brigar com Deus Pe. Zezinho scj
Esta canção é para os pais que já perderam um filho, e por isso, brigaram com Deus.
Eu não tenho respostas prontas para essa dor!
Há feridas que não se curam com pomadas, mas com o tempo.
Para eles, que continuam zangados com Deus, esta canção!
Admito que eu já duvidei, Depois daquela morte repentina num farol,
Depois que dos meus olhos Deus levou A luz do sol,
Depois daquela perda sem aviso e sem sentido, Admito que eu já duvidei.
Admito que eu briguei com Deus Porque não respondeu Quando eu lhe perguntei porquê;
Ele, que tudo sabe, tudo pode, tudo vê,
Parece que não viu, nem escutou Lá no hospital.
Admito que eu fiquei de mal!
Doeu demais e, quando dói do jeito que doeu,
A gente chora, grita e urra E põe pra fora aquela dor.
E desafia o criador e quem se mete a defendê-lo.
Comigo não foi diferente do que foi Com tanta gente Que perdeu algum amor.
Briguei com Deus, briguei com Deus E se eu briguei foi por saber que Deus ouvia.
Admito que eu me revoltei; Onde é que estava Deus com seu imenso amor? Se Deus é amoroso, então por que deixou? Por que tinha que ser do jeito como foi?
Admito que o desafiei, Por não achar sentido no que Deus me fez;
E nem me perguntei porque será que o fez.
Briguei com quem levara alguém Que eu tanto amei!
Admito que eu já blasfemei.
Doeu demais e, quando dói do jeito que doeu.
A gente chora e grita e urra, e põe pra fora aquela dor.
E desafia o Criador e quem se mete a defendê-lo.
Comigo não foi diferente do que foi com tanta gente Que perdeu algum amor.
Briguei com Deus, briguei com Deus. Briguei com Deus, mas acabei no colo dele.
Admito que voltei pra Deus E até nem sei dizer porque foi que voltei.
Eu acho que voltei porque não me calei.
Voltei porque, talvez, não sei viver sem crer.
Admito que voltei pra Deus.
Admito que ainda creio em Deus, Mas tenho mil perguntas a doer em mim.
Eu tenho mil perguntas para lhe fazer.
Espero que ele um dia queira responder!...
Ele sabe o que é que eu penso dele...(3 vezes)
Eu creio piamente que isso traduz não apenas o que senti,
mas o que muita gente sente, quando recebe um NÃO, de Deus.
É poético, é romântico, e parece ser extremamente piedoso dizer:
"Seguir-te-ei para onde quer que fores". Sim, é bonito.
Só que não é real, porque a vida não é feita só de altruísmo e determinação,
mas também de crises, dores, revoltas,
lágrimas e um sentimento de debilidade sufocantes.
Nessas horas, temos que ser sinceros: nós brigamos com Deus.
Lembro-me quando criancinha.
Eu chamava Deus, em meu pensamento, de "Deusinho queridinho do meu coraçãozinho".
Meu pai exigia que eu o tratasse de "paizinho queridinho..",
e eu apliquei isso a Deus. Então, quando eu apanhava,
ou ficava doente, ou acontecia qualquer coisa da qual não gostava, eu dizia:
"Deusinho, estou de mal".
Emburrava e ficava de mal.
Talvez não passasse 15 minutos, e eu orava assim:
"papaizinho, vamos fazer as pazes?
" Se brigamos com Deus, em nosso íntimo, é porque temos uma relação.
E isso é maravilhoso! Numa relação, também divergimos.
Mas, com Deus, é um aprendizado, porque Ele sempre está certo,
e nós sempre precisamos aprender.
"Respondeu Jesus, e disse-lhe: O que eu faço não o sabes tu agora,
mas tu o saberás depois." (Jo 13:7)
Certo dia eu estava esperando o ônibus no ponto,
à beira de uma loja de pesca e caça.
Muitas armas expostas, lindas,
imitando aquelas de brinquedo (para não dizer o contrário).
Um garoto, de seus seis anos, que vinha com a mão segurando a do seu pai,
disse, gritando: "paiê, compra esse levolve pla mim!"
O pai disse: "não, filho, vamos embora". "Mas, paiê...",
"filho, não pode, isso machuca".
"Mas eu quelo! Eu quelo! Compla!".
O pai, nervoso, deu-lhe um safanão e disse: "Menino sapeca,
eu já não disse que não pode? Você não entende?".
O menino, chorando, berrou: "Você não me ama! Buááá´...
" Achei graça, mas fiquei perplexo.
É isso que faço com Deus, quando brigo com Ele.
"Levastes minha mãe, Senhor. Tu não nos amas".
Mesmo que não diga isso, sinto isso.
E o leitor amigo também já enfrentou,
enfrenta ou enfrentará situações semelhantes,
onde concluirá que Deus não lhe ama, não lhe atende,
não lhe fez o bem, não lhe abençoou.
À semelhança daquele pai,
Deus nos dará carinhosamente o safanão espiritual, para que,
se não entendermos agora o que Ele faz,
que pelo menos confiemos que Ele sabe o porquê, e que, no futuro,
nós também entenderemos.
Portanto, quando amamos a Deus, podemos até brigar com ele,
mas acabamos adormecendo em Seu colo,
porque simplesmente não sabemos viver sem Ele.
Ele é o nosso tudo.
Nós te amamos, Senhor!
Pastor Wagner Antonio de Araújo

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